sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Não é o fim de carreira que Schumacher merecia*

* Por Lívio Oricchio


Tudo foi feito, ontem em Suzuka, no Japão, de forma a dar a entender que deixar a Fórmula 1, no fim da temporada, correspondeu a um decisão pessoal de Michael Schumacher, a ponto de afirmar ter convite para prosseguir competindo. Na realidade, o piloto de melhores estatísticas na história da Fórmula 1, “o piloto do impossível”, “o piloto do século”, como diz o diretor técnico das equipes dos seus sete títulos mundiais, Ross Brawn, decidiu parar de correr, aos 43 anos, por ter sido dispensado pela Mercedes. O jovem e igualmente talentoso Lewis Hamilton, hoje na McLaren, o irá substituir.

A não ser na Sauber, time médio do campeonato, e com salário bem menor se comparado aos estimados 20 milhões de euros que recebia da Mercedes, não havia mais lugar para Schumacher na Fórmula 1. É um fim de carreira não compatível com a grandeza de sua obra. Triste, até. A cota de sete títulos mundiais, 91 vitórias, 68 poles e 155 pódios, números absolutos no universo de 63 anos da história da Fórmula 1, por si só atestam sua genialidade.

É bem verdade que a Fórmula 1 conheceu duas versões de Schumacher: a primeira, da estreia, em 1991, ao primeiro abandono do Mundial, em 2006, brilhante sob quase todos os pontos de vista, e a segunda, que vai se encerrar, como a primeira, em Interlagos, dia 25 de novembro, reveladora do inexorável desgaste da idade para uma competição de nível máximo. Espera-se que antes da sua última largada, no GP do Brasil, Schumacher receba homenagens dignas de quem criou um nova referência de desempenho na Fórmula 1.

“Decidi parar no fim da temporada, mesmo sendo ainda capaz de lutar contra os melhores do mundo, parte da razão de nunca me arrepender de ter voltado”, disse o alemão. Mais: “Afirmei no final de 2009 (quando anunciou a volta à Fórmula 1) que desejava ser avaliado pelo meu sucesso e é por isso que recebi tantas críticas nos três últimos anos. Não há dúvida de que não atingimos a meta de desenvolver um carro capaz de nos permitir lutar pelo título”. E completou: “Mas devo ficar muito contente com os resultados que obtive”.

Do GP de Bahrein de 2010, o primeiro depois do retorno à Fórmula 1, até a última etapa, o GP de Cingapura, dia 23, Schumacher disputou 52 provas pela Mercedes. Sua melhor colocação foi o terceiro lugar na corrida de Valência, este ano, enquanto na definição do grid conseguiu um primeiro lugar, também nesta temporada, em Mônaco. Nesses mesmos 52 GPs, seu companheiro, Nico Rosberg, 27 anos, venceu o GP da China, este ano, estabeleceu em Xangai a pole e obteve quatro outros pódios. E envolveu-se num número bem menor de acidentes que Schumacher, bem como não foi punido por comprometer a corrida dos adversários, a exemplo do piloto que se aposenta.

Mas como diz Ecclestone, “as dificuldades de Michael não são capazes de apagar o que já fez”. A segunda versão do piloto alemão que, de fato, em nada lembra a primeira, não arranha em nada, para a maioria dos profissionais da Fórmula 1, como o promotor, Brawn, Frank Williams, o seu passado de glórias. Em entrevista ao Estado, Schumacher declarou: “Corro exclusivamente porque gosto e minha família me apoia, não por dinheiro. Não precisaria.” E apesar de não corresponder ao que ele próprio, a Mercedes e os fãs desejavam, Schumacher se divertiu muito, portanto deixará a Fórmula 1, como disse, feliz. Seu principal objetivo foi atingido.

“Nas últimas semanas fiquei em dúvida se tenho ainda motivação e energia para continuar e não faz parte de mim me lançar em algo em que não me sinta 100% convencido de poder fazer. A decisão de hoje me libera dessa dúvida”, explicou Schumacher. Uma vez definido o que quer da vida, lembrou, a hora é de se concentrar no GP do Japão e nas cinco etapas restantes ainda do calendário.

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