quinta-feira, 26 de abril de 2012

TEM DE GOSTAR MUITO*


* Por Flávio Gomes


O e-mail que recebi do Luiz “Guima” Guimarães ontem mostra como é a vida de quem gosta de automobilismo em São Paulo. E explica por que as arquibancadas de Interlagos vivem desertas no Campeonato Paulista. Segue:
Flavio, boa noite.
Estive sábado em Interlagos, com meu filho, minha nora e minhas netas. Sou o “talvez pai” da frase abaixo, extraída do comentário de Bernardo Costa (19:47) no seu post “P 11”. “Havia um homem que levou a família, mulher e duas filhas, e foi o maior responsável pelo aumento do público. Depois chegou um senhor amigo dele, talvez o pai.”
O passeio teve dois momentos distintos: as corridas e a revolta. Quanto às corridas, tudo de acordo com a expectativa. Assistimos à Força Livre (grid decepcionante, 10 carros!), à Classic Cup (belo grid, belo desempenho do Meiano e do Puma vencedor, depois de bela disputa com o Maveco). As netinhas adoraram tudo e gostaram muito do Meianov. Na sequência, assistimos à Formula Vee e à tomada de tempos do Brasileiro de Marcas – belos carros de verdade (ao invés dos chassis tubulares e bolhas da Stock), pena que não usam os motores correspondentes às marcas…
Quanto à revolta: frequento Interlagos desde a década de 50, como aficionado. Entre 1989 e 1993, fui “paitrocinador” de meu filho, nas categorias Speed 1600, Turismo “N”, Turismo “A” e Força Livre até 1.600. Na época, as arquibancadas não ficavam lotadas, mas também não eram desertos de concreto.
A revolta começou quando um segurança nos impediu (gentilmente, é bom ressaltar) de estacionar de ré (porta-malas aberto, se chovesse as crianças teriam um abrigo) na área fronteiriça ao portão 2, altura da faixa de entrada dos boxes. Motivo? “Não é permitido, senhor”. Suponho que estaríamos perturbando o enorme público presente. Ok, vamos estacionar na área das quadras, à esquerda do portão 7. Afinal, estamos aqui para nos divertir e não nos aborrecer por um detalhe tão pequeno. Mas chegou uma hora que as meninas pediram para “fazer xixi”. Sem problemas, basta ir ao banheiro, certo? Errado! O banheiro existente estava fechado a cadeado. Nisso chega outro segurança, de moto. Pergunto se ele tem a chave ou sabe quem tem. “Não, senhor, banheiro, só nos boxes”. Ou seja, o público, que era de 19 pessoas, se fosse de 190 ou 1.900, que se vire. Por sorte, meu filho, macaco velho de Interlagos, levava no porta-malas um peniquinho de quando elas eram menores. Colocamos o tal peniquinho atrás do prédio do banheiro. É um lixo só.
Desculpe-me pela extensão deste e-mail, mas esses fatos, aliados aos demais já conhecidos — falta de promoção, interesse único dos clubes em faturar com inscrições e carteirinhas, total descaso dos administradores do autódromo com sua conservação (só realizada por ocasião da F-1, assim como a “maquiagem” do entorno do autódromo e das vias que a ele levam) etc, etc — servem para afastar cada vez mais os admiradores do verdadeiro automobilismo. Como dificilmente algo será feito para reverter a atual situação, só nos resta “botar a boca no trombone” através dos meios que dispomos. Seu blog é um deles.
Forte abraço e, mais uma vez parabéns pela sua tocada de ontem com o Meianov. P11 merecida.
Luiz Guimarães


O Fabiano, filho do Guima, conta mais um pouquinho com outras fotos aqui. Nem é preciso me estender demais. Apenas acrescento que as coisas pioram quando temos, agregadas ao Paulista, provas de categorias nacionais, como o Brasileiro de Marcas. Elas restringem o acesso aos boxes e paddock, onde o parco público tem alguma estrutura e diversão, onde há alguma vida, sem oferecer, do lado de lá da pista, nas arquibancadas, o mínimo necessário para que se possa assistir a um treino ou corrida. É como se o público de arquibancada atrapalhasse. O automobilismo paulista faz questão de ser secreto.

Não vejo luz no fim desse túnel.

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